II – “Isto não é um roteiro de novela”

O segundo trabalho de oficina não logrou a produção mecânica suficiente que seria exigida para tornar-se uma telenovela admissível pela Rede Globo de televisão, tal como o professor gostaria que ocorresse. Segundo os padrões industriais vigentes que determinam o que vai passar a ser telenovela, esse texto não respeita os requisitos mínimos nem tem a “dignidade” suficiente para entrar numa rede de televisão. O que aqui não pode ser vendido para ser telenovela, de modo a que a massa em geral possa recordar suas imagens gregárias e principalmente comprar os modelos disponíveis através  de uma determinada crença no gênero, tampouco pode ser realizável de acordo com as regras desse mercado cultural. Isso, no entanto, é o que valoriza o trabalho/texto, na opinião do seu autor.

Para a realização desse trabalho, o autor foi influenciado principalmente pelo documentário “A negação do Brasil”, atualmente censurado pela Rede Globo de televisão no canal youtube. Este documentário, que pode ser visto apenas em pequenas partes na internet, mostra com muita ironia e perspicácia a forma como a indústria cultural utiliza-se dos meios que forem necessários para manter o seu próprio esquematismo, por sua vez ancorado no moralismo e no maniqueísmo presentes desde sempre nas suas produções de massa, para a massa.

O autor também fundamentou a sua construção no livro Videologias, de Maria Rita Kehl e Eugênio Bucci, bem como no livro Dialética do esclarecimento, de Theodor Adorno e Max Horkheimer. Através destes textos, procurou recordar tudo o que a televisão em geral e as telenovelas em particular  não fazem mais do que esquecer: a indignidade que norteia as suas produções.

Trata-se, aqui, pois, de uma crítica específica às boas consciências apaziguadas com o curso do mundo.