I – “O visível se dissimula sem estar ausente”

O primeiro trabalho escrito para essa oficina, chamado “O visível se dissimula sem estar ausente”, procura entrar em tensão com a história dos Dzi Croquettes tal como foi narrada pelos diretores Tatiana Issa e Raphael Alvarez, que realizaram em 2010 o documentário a respeito desse grupo de dançarinos. São muitas as expressões corporais trazidas à tona neste filme que pôde ser realizado porque um único rolo de imagens encontrou-se preservado do poder arbitrário e genocida empreendido pela ditadura civil-militar que assombrou o Brasil a partir de 1964. A história da reunião desses homens nus e cabeludos e que se vestiam de mulheres diz respeito também à vitalidade do escracho e da urgência quanto à performtividade crítica de todas as inúmeras classificações comprometidas com a manutenção do maniqueísmo que rege ainda hoje a produção de conhecimento e a “crítica” de arte brasileiras.

Foi casualmente que encontrei neste documentário um paralelo interessante para a proposição da tarefa que consistia em deixar-se tomar pelo filme Pina Bausch, de Wim Wenders, e verter-se em considerações poéticas a respeito dos interstícios gráficos nas formas de expressão corporais e mesmo intestinais, que caracterizam as danças tomadas por uma inquietação visceral a respeito da sua contemporaneidade.

O texto produzido foi caracterizado pelo professor desta oficina como poesia-ensaio. O autor que vos escreve procura preservar em seu trabalho a potência dos gestos e as fímbrias da escrita corporal – abdômen, braços e bundas – que a cada instante tem o condão de chocar as consciências apaziguadas diante da debilidade do mundo.

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