O Elefante, Emília e o helicóptero

O Elefante, Emília e o helicóptero

De volta do internato, dessa vez para sempre, Emília perguntava ao elefante sobre a história da chama invisível que o mantinha vivo. Ela o encontrou com surpresa, com um olhar vazio de quem pensa e não de quem apenas observa; tinha um olhar voltado para as coisas invisíveis. Esse último elefante precisava de mais ar para respirar do que a maioria dos homens. Sua pele toda ressecada e quase murcha. Sua feição parecia a de uma antiguidade excessiva. Elefante andava com o peso da sua história às costas. E a menina sentiu que a respiração dele envolvia toda uma atmosfera de angústia. Elefante apenas murmurou. Inarticulada linguagem com suas hélices quebradas. Vivia já como se estivesse perdendo a respiração. Emília tentou imitá-lo, mas voltou a respirar com o susto que levou. Elefante caiu para sempre, levando consigo toda a sua espécie. No chão, seus olhos pareciam infantis, apesar da longa vida que lhe pesava as pálpebras. E Emília encostou-se à orelha do Elefante, que era maior do que ela. Ambos ouviram quando do alto e a certa distância o helicóptero desceu até quase pousar. Emília pôde ver dois homens fardados e bem armados e outro homem também fardado que pilotava precisamente o helicóptero. Eles transportaram com segurança um enorme tampo oval de vidro transparente. Diligentemente, o piloto descia até a imobilidade do elefante; e, de cima, posicionou o tampão para sempre sobre seu corpo gigante e enrugado. Emília ficou ali, assim o passado não ficava tão distante das suas recordações.

Arquivo pessoal ACP

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